quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

O bebê da hora

A maior parte das pessoas assiste à televisão em busca de puro entretenimento. Existe uma parcela de telespectadores, no entanto, que acompanha os programas com outro objetivo: registrar nomes que possam virar produtos. A bola da vez no Instituto Nacional da Propriedade Industrial, Inpi, órgão do governo responsável pelo registro de marcas e patentes, é o nome Sasha, a filha da apresentadora Xuxa. A rainha dos baixinhos anunciou pela primeira vez o nome de sua primogênita em dezembro de 1997, quando estava ainda no segundo mês de gravidez. De lá para cá, houve 34 pedidos de registro da marca. Nenhum foi indeferido, já que cada um foi solicitado para um produto diferente. O nome Sasha deverá aparecer em fraldas descartáveis, doces e até biscoitos. A própria Xuxa registrou o nome da filha no Inpi poucos meses antes de a menina nascer, numa categoria que inclui serviços de radiofonia, telefonia, televisionamento e jornalismo. Isso significa que, se ganhar uma concessão de televisão, a apresentadora pode batizá-la de TV Sasha. Mas se quiser licenciar o nome da filha para uma linha de biscoitos infantis, terá de negociar com o proprietário da marca. O dono do registro é sempre quem pediu primeiro.
"Se a Marlene Mattos me ligar, a gente pode até fazer negócio. Não sei como ela bobeou", comemora Viriato Alonso, o Netinho, empresário do ramo de alimentos que registrou a marca Sasha para biscoitos. Viriato, que mora na cidade paulista de Campinas, é um telespectador profissional de longa data. Na época da Buzina do Chacrinha ele registrou um logotipo idêntico ao do programa, além da marca Buzina, para uma linha de balas. Mais tarde, quando a novela Vamp, da Rede Globo, fazia sucesso entre os adolescentes, Netinho lançou os pirulitos Vamps. Ele tem quinze marcas em seu poder, a maior parte inspirada em atrações televisivas. O empresário Gilson Vieira, também de Campinas, é outro que forma o time dos espertos. "Estava lendo uma revista e nela a Xuxa dizia que estava pensando em chamar sua filha de Sasha", lembra ele. Mais que depressa, Viana registrou o nome na categoria "fraldas". O logotipo da marca já está em estágio de finalização. Fabricar produtos registrados com o nome de famosos também é uma especialidade do industrial Angelo Amato. Atualmente, ele está fabricando os tamanquinhos da Tiazinha e acaba de registrar o nome Sasha para sapatos. Segundo ele, batizar um produto com o nome de um artista em evidência significa dobrar a possibilidade de lucro em relação a outro com nome comum.
No passado, era freqüente que pessoas registrassem no Brasil marcas famosas no exterior — como Yves Saint Laurent ou Harrods —, para revendê-las quando essas empresas se estabelecessem no país. "Hoje, a lei proíbe esse tipo de desonestidade", diz Augusto Cardoso, diretor do Inpi. Casos como esses eram conhecidos pelo nome de "marcotráfico". Mesmo com o aperfeiçoamento da legislação, ainda ocorrem histórias curiosas de conflito de interesses. Depois de enfrentar toda a dor da morte do irmão e parceiro Leandro, o cantor Leonardo teve de amargar outro dissabor: a constatação de que não é dono do próprio nome. Existe outro cantor chamado Leonardo no nordeste do país, e só há espaço para um no Inpi. Leandro & Leonardo já tem registro no órgão, mas a marca Leonardo não. O conflito entre o sertanejo famoso e seu xará desconhecido promete ser duro. Tornar-se proprietário de um nome, no Brasil, é fácil e relativamente barato. Basta ter a idéia e cerca de 1.500 reais no bolso para pagar as despesas com o Inpi e com a contratação de um advogado especializado. São registradas no país cerca de 80.000 marcas diferentes por ano. Se tiver um segundo rebento, é melhor que Xuxa só revele seu nome no dia do batizado.

Fonte:http://veja.abril.com.br/030299/p_122.html

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